ALUNOS VENCEM A DISTÂNCIA E O ACESSO RUIM E SE DESTACAM NO IDEB
A escola Theodor Badotti, que faz parte da rede municipal de ensino,
está localizada no bairro do Tenoné, conhecido pelo alto índice de violência e
pela falta de infraestrutura. Mas, diante de tantos problemas em nível social,
a escola conseguiu um ótima nota na Prova Brasil, realizada pelo Ministério da
Educação, para medir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Outra escola com uma ótima nota é a Ernestina Rodrigues, também da rede
municipal de ensino e encontra-se no bairro de São Brás, centro da capital
paraense. Em ambos os casos, as diretoras e os pais garantem que o
comprometimento profissional de professores, coordenação e até da família dos
alunos.
A rotina da dona de casa Suely dos Passos Pereira, 34 anos, é levar os
filhos na escola Theodor Badotti diariamente. Essa missão não é fácil. Ela
precisa sair bem cedo da residência para enfrentar aproximadamente um
quilômetro de terra batida, lama e buraco até chegar no colégio onde os filhos
de 7 e 9 anos estudam. "Eu moro no conjunto Maria Helena, que fica muito
longe daqui. Mesmo com chuva, eu trago meus filhos. Agora eles estão à tarde.
Eu saio às 14 horas para chegar aqui 15 horas. Antes, quando era pela manhã,
acordava 5 horas, no momento que meu marido levantava para ir trabalhar. Os
meus filhos já sabem ler. O ensino na Theodor é ótimo. Aliás, muitas escolas
aqui são boas. É difícil, mas sei que meus filhos precisam estudar para ter uma
vida melhor. A lama e terra não vão impedir isso", afirma Suely.
A diretora da Theodor Badotti, Elza Bittencourt, é responsável pelo
local desde 2005. Ela comenta que sempre que está na direção de alguma escola
visualiza o que é preciso fazer pelo local. "Apesar de existir há muito
tempo, quando cheguei à escola não tinha coordenador, não tinha uma direção.
Fui conversando com todos e o nosso foco foi na aprendizagem. Todos entenderam
que precisava dar uma melhorada no ensino e deu certo", comenta.
Segundo ela, o Ideb da escola foi melhorando com o passar dos anos. Em
2005, a escola conseguiu 2,7; em 2007 foi 4,5, resultado repetido em 2009; em
2011, a nota foi 5,8. "Foi um esforço de todos. Eu atribuo essa boa nota
ao trabalho de todos. Aqui fazemos o controle das faltas, mandamos comunicado
aos pais e vamos visitar a todos. Os professores passam por capacitação da
Semec (Secretaria Municipal de Educação) e sempre estamos conversando sobre
tudo. O importante são os alunos e a educação. Os pais entenderam que queríamos
levar uma educação de qualidade para o local apesar de todas as dificuldades
sociais da área. Há seis anos só dois alunos frequentavam o primeiro dia de
aula, hoje todos participam das aulas", relata.
SEMEC APONTA DOIS PROJETOS DE CAPACITAÇÃO
A diretora de Educação da Semec, Lorena Trescastro, destaca dois
projetos importantes para a capacitação dos professores, o Expertise, que
trabalha na preparação dos professores e alunos da 3ª e 4ª séries, e o Alfamat,
que investe na preparação dos professores e alunos da 1ª e 2ª séries. "O
objetivo é elevar ainda mais o Ideb, alcançando a média 4.7, estipulada pelo
MEC para 2017, uma vez que tivemos a média de 4,4 em 2011. Esse programa de
formação continuada dos professores tem como meta elevar o ensino. Uma sendo no
centro e outra na periferia mostra a qualidade do ensino. Isso mostra que o
ensino no centro e na periferia são iguais e de qualidade. E agora vamos
investir mais na educação dos alunos e preparação dos professores",
garante a diretora.
A diretora do Ernestina Rodrigues, Lídia Sarmento, explica que a
escola sempre teve boa referência entre as outras e boas notas no Ideb.
"Isso sempre foi um destaque para a escola, que é tradicional. São 66 anos
de história. Aqui estudam pessoas de todos os locais de Belém e raramente são
pessoas e clientelas do entorno", explica.
Segundo ela, a boa qualidade no ensino se reflete pelo conjunto
frequência, empenho do professor e capacitação dos profissionais. "É o
compromisso do profissional que faz com que a educação seja boa, independente
do local onde fica a escola", avalia.
CHEGAR À THEODOR BADOTTI É UM DESAFIO DIÁRIO PARA TODOS
Elza Bittencourt conta a dificuldade das professoras em chegar na
escola, mas nem isso impede o bom ensino. "A escola fica longe do ponto de
ônibus, é de difícil acesso, mas nada impede o trabalho. Os próprios moradores
falam para os ladrões não mexerem com os professores e a direção. Eles sabem
que o ensino é importante", comenta.
A expectativa da diretora é aumentar o número de vagas para os
moradores. Atualmente, a escola possui 400 vagas e o número é insuficiente para
a demanda do local. "A procura é grande. Todos os dias do ano recebemos
pessoas querendo matricular os filhos. No final do ano colocamos as vagas que
vamos dispor e os pais começam a vir. Todos gostam da escola, sabem que o
ensino é bom. Um dia alguém veio comentar que queriam assaltar a escola e
estavam se organizando. Bom, fomos verificar a informação. A líder comunitária
foi falar com as pessoas e disse para prestarem atenção no que iam fazer com a
escola, porque era um local importante. E se fizessem isso, seriam expulsos do
conjunto", afirmou.
PROFESSORES MOSTRAM EMPENHO PARA QUE NINGUÉM FALTE ÀS AULAS
O corpo docente da Theodor Badotti é unânime em dizer que a qualidade
da escola está na participação dos pais e na capacitação dos professores. A
professora Iraci Souza, 48 anos, trabalha desde 1997 no local, antes mesmo da
escola fazer parte da rede municipal de ensino. Ela explica que o local
melhorou para o que ocorria na época. "Aqui era só mato, a escola era um
barracão. Quando chegamos aqui no início, peguei um susto. Tinha até galinha e
a documentação da escola estava uma baderna. Foram os professores que começaram.
Depois mandaram um coordenador que respondia pela escola até a parceria com a
Semec, em 1999. A necessidade se deu devido aos filhos dos funcionários da
madeireira e de outras localidades. Todos precisavam dessa escola. Aqui estudam
muitos alunos. Há todo um controle dos professores para que o aluno não
falte", afirma.
A professora é Conceição Figueiredo afirma que força de vontade dos
professores, pais e alunos é fundamental para a boa nota da instituição. Mas
reclama da infraestrutura das ruas: "A rua em nada mudou. Continua a mesma
coisa. Já paralisamos, mas sem atrapalhar os estudos, para pedir melhorias na
infraestrutura das ruas. Agora a educação, a parte pedagógica é ótima. Os
alunos também são comprometidos", afirma.
A professora Miriam Miranda afirma que, mesmo com a distância, os
alunos vão para aula. Tudo, para ela, se deve ao apoio da direção, o
planejamento e a capacitação profissional. "É um trabalho conjunto, entre
informática, arte, educação física, cada um assume um compromisso com a turma,
com a educação. Temos a filosofia de não fazer o aluno voltar, mesmo com chuva
ou qualquer outra coisa. O importante é o aluno ter aula. Uma época ameaçou
acabar o intermediário e precisamos ir atrás do aluno, mas deu tudo
certo", afirma.
Para a líder comunitária Maria Izabel Moreira, falta melhorar a
infraestrutura do local, apesar do bom ensino. O mesmo deveria se repetir com a
rua. "Precisa de um ambiente mais amplo, uma biblioteca, uma quadra,
melhorar a rua. Aqui tem livro, mas não tem biblioteca. Estamos tentando uma
estrutura maior para abranger as crianças. A escola é muito importante para a
comunidade. Não falta merenda. Os pais podem não ter dinheiro para comprar, mas
sabem que na escola vai ter comida, lanche para os filhos. Isso também é o
diferencial", afirma.
PREFEITO PROMETE MELHORIAS NA ÁREA
Para reconhecer e estimular as escolas, o prefeito de Belém, Zenaldo
Coutinho, visitou as duas instituições de ensino com melhores médias, a
Ernestina Rodrigues e a Theodor Badotti, onde conversou com alunos, pais e
profissionais de educação, e pode ouvir deles o que o compromisso, o trabalho
coletivo e a aproximação da família na escola é o que faz a diferença para terem
um bom desempenho no Ideb.
Durante
a visita, o prefeito informou que iria presentear as duas escolas com a
climatização das salas de aula, quadro virtual e um ônibus próprio para cada
uma. No Tenoné, o prefeito ainda garantiu que a limpeza emergencial da rua São
João que fica em frente à escola Theodor Badottii, e o asfaltamento e
implantação de iluminação publica da mesma, e todas a ruas em torno, a partir
de julho.
Fonte: Amazônia Jornal
http://www.orm.com.br/amazoniajornal/interna/default.asp?modulo=222&codigo=633228
Fonte: Amazônia Jornal
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